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A Covid-19 impactou de forma diferente homens e mulheres?

26 out 2021

 

Pesquisadora responsável: Eduarda Miller de Figueiredo

Título do artigo: The impact of Covid-19 on gender equality

Autores do artigo: Titan Alon, Matthias Doepke, Jane Olmstead-Rumsey e Michèle Tertilt

Tamanho da amostra: 130 milhões de famílias - domicílios

Localização da intervenção: Estados Unidos

Setor: Gênero

Tipo de intervenção: Efeitos da Covid-19 na desigualdade de
gênero

Variável de interesse principal: Desigualdade de gênero

Método de avaliação: Outros

Problema de Política

A pandemia causada pela Covid-19 apresenta-se como uma questão de emergência de saúde e que, como consequência, trouxe uma grande desaceleração econômica mundial. Sendo assim, a literatura vem demonstrando que os efeitos da crise atual atingem de forma distinta entre homens e mulheres.

Em recessões “padrão”, como a de 2008 por exemplo, as perdas de emprego para os homens foram muito maiores do que para mulheres. No qual um dos motivos dá-se ao fato de que mais homens trabalham em indústrias pesadas, que foram atingidas mais fortemente nas recessões “padrão”, quando comparado às mulheres, que tem sua concentração de trabalho em setores menos cíclicos, como saúde, educação, etc. Em relação a isso, Coskun e Dalgic (2020) descobrem que os setores “Governo” e “Serviços de Educação e Saúde” são anticíclicos, e que possuem 40% de mulheres nas vagas de emprego, e apenas 20% são homens.

Conforme visto, haverá diferenças de impactos nos setores da economia conforme o nível em que foram afetados. Assim, há dois fatores a serem pontuados:

1. Se a demanda pela produção do fator é afetada pelos pedidos para “ficar em casa” (nenhum impacto sobre os serviços essenciais – farmácias, supermercados -, grande impacto negativo em setor de hotelaria e viagens).

2. Se a natureza do trabalho permite o teletrabalho ou não (nenhum impacto sobre o ensino superior, grande impacto na manufatura).

Contexto de Avaliação

A recessão causada pelo corona vírus, tem um perfil de impacto maior em setores onde há uma alta participação feminina na força de trabalho, como restaurantes, escolas e hospitais. Por exemplo, diversos países decidiram fechar escolas e creches. Tal situação fez com que mais de 1,5 bilhões de crianças não fossem à escola e, consequentemente, aumentou-se de forma drástica a necessidade de cuidados infantis em casa.

Sabe-se que a distribuição da tarefa de cuidar dos filhos ainda recai mais sobre a mãe do que sobre o pai, portanto afetando ainda mais a mulher. Sem esquecer das mães solteiras, que muitas vezes estão em posição econômica desfavorecida, e, assim, são mais afetadas ainda pela recessão econômica advinda da Covid-19.

Nos Estados Unidos existem 73,5 milhões de crianças menores de 18 anos, das quais 21% vivem apenas com a mãe, enquanto 4% vivem apenas com o pai. Logo, com o fechamento das escolas por causa da pandemia do Covid-19, 21% das crianças estariam em risco de viver na pobreza em razão das mães solteiras não poderem trabalhar e as formas de cuidado informal de crianças ser extremamente desencorajado no momento.

Detalhes da Política

A divisão desigual da responsabilidade com os cuidados infantis entre os homens e as mulheres têm seu embasamento nas normas sociais persistentes. Com o choque da Covid-19, há alguma possibilidade de que essas normas sociais “caminhem” para uma maior igualdade de gênero? Para avaliar isso, os autores traçam um paralelo entre a crise da Covid-19 e o último grande choque para as mulheres no mercado de trabalho, que ocorreu na Segunda Guerra Mundial. Visto que durante a guerra, milhões de mulheres entraram na força de trabalho para substituir os homens nas fábricas e outros locais de trabalho. Ademais, Fernandéz, Fogli e Olivetti (2004) demonstram que os meninos que crescem em uma família onde a mãe trabalha, são mais propensos a se casar com mulheres que também trabalham.

E como o ocorrido na Segunda Guerra Mundial poderia estar relacionado com o que possivelmente possa acontecer durante a crise da Covid-19? Durante a crise atual, pais trabalharam de casa e assumiram em maior grau a responsabilidade com os cuidados infantis. E, mesmo que as mulheres experimentem em maior escala o aumento da necessidade dos cuidados infantis, ainda assim, os homens experimentaram também o aumento no tempo dispendido aos cuidados infantis. Dessa forma, os autores expõem que é provável que essa maior exposição tenha pelo menos alguns efeitos persistentes nas contribuições futuras com os cuidados infantis, seja através da aprendizagem, da maior quantidade de informações sobre o que as crianças estão realmente fazendo durante o dia todo, ou do aumento do apego às crianças.

Detalhes da Metodologia

Buscando compreender a relação complexa entre desigualdade de gênero e os diversos impactos advindos da crise do corona vírus, o artigo combinou percepções da literatura existente com dados sobre a distribuição de mulheres, homens e casais por ocupações e a divisão do trabalho no lar. Assim, possibilitou o estudo de como a pandemia afetou a desigualdade de gênero.

Para avaliar como mulheres e homens no mercado de trabalho estão expostos à crise, os autores utilizaram os dados do American Time Use Survey – ATUS, que permite observar a fração de trabalhadores em uma determinada ocupação e se os mesmos são capazes de trabalhar à distância. Tais dados demonstraram que 28% dos trabalhadores do sexo masculino conseguem trabalhar a distância, mas apenas 22% de mulheres são empregadas em cargos que permitem o trabalho remoto. Portanto, na crise da Covid-19 mais homens adaptam-se à alteração do ambiente de trabalho e mais mulheres enfrentam a potencial perda de emprego, o que é o oposto do padrão das crises econômicas normais.

Principais Resultados

Em relação aos tipos de família, os casais que trabalham em tempo integral representam 44% de todos os casais com filhos, portanto, um grande grupo afetado pelo aumento das necessidades de cuidados infantis. Famílias onde o marido possui trabalho em tempo integral e a esposa permanece em casa com os afazeres domésticos representam apenas 25% dos casais com filhos. Apenas 5% das famílias possuem o arranjo familiar onde a mulher trabalha em tempo integral e o marido fica em casa.

Portanto, em resumo, os dados sugerem que as mulheres serão muito mais afetadas pelo aumento da necessidade de cuidados infantis que decorre do fechamento de escolas e creches durante a crise. Onde as 15 milhões de mães solteiras nos Estados Unidos vão ser muito mais gravemente afetadas, com pouco potencial de acesso à outras fontes de cuidados infantis devido as ordens de isolamento social. Assim, o apoio à essas mulheres e seus filhos durante a crise é um dos grandes desafios políticos de maior imediatismo e importância no contexto atual.

A crise do corona vírus trouxe desafios graves e sem precedentes anteriores para as famílias, principalmente para aquelas famílias com menos capacidade de resposta, como as mães solteiras de baixa renda. Tal situação é um grande problema para os governos atuais, que precisam de políticas para lidar com estes desafios específicos advindos da crise da Covid-19. Em razão disso, os autores sugerem algumas políticas para enfrentar estes desafios:

1. Subsídios do governo para substituir os salários dos trabalhadores que precisam providenciar cuidados infantis durante a crise devido ao fechamento das escolas, assim, impossibilitados de trabalhar.

2. Suspender os requisitos de trabalho para programas de assistência do governo até a reabertura da escola.

3. Remover o requisito de estar ativamente buscando trabalho para ser elegível para o seguro-desemprego durante a pandemia.

4. Estender benefícios de desemprego para trabalhadores que se demitem voluntariamente para cuidar das crianças.

Evidentemente, os autores pontuam que cada política envolve uma série de compensações com fatores que envolvem impacto orçamentário e incentivos ao trabalho. Ainda mais nos Estados Unidos, em que o seguro saúde é frequentemente baseado no emprego, assim, a proteção do emprego teria um efeito adicional de preservação do seguro saúde. Portanto, se demonstra como um fator adicional relevante para a avaliação das políticas públicas em relação à crise da pandemia.

Lições de Política Pública

Embora identificados alguns canais que podem ter efeitos benéficos, os autores enfatizaram que os desafios de curto prazo advindos da crise do Covid-19 são graves, especialmente para mães solteiras e famílias com falta de capacidade de combinar trabalho e cuidados infantis em casa.

Referência
ALON, Titan et al. The impact of COVID-19 on gender equality. National Bureau of economic research, 2020.