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A desigualdade econômica afeta o estilo de criação escolhido pelos pais?

16 jul 2021

Pesquisadora responsável: Eduarda Miller de Figueiredo

Título do artigo: PARENTING WITH STYLE: ALTRUISM AND PATERNALISM INTERGENERATIONAL PREFERENCE TRANSMISSION

Autores do artigo: Matthias Doepke e Fabrizio Zilibotti

Localização da intervenção: Países da OCDE

Tamanho da amostra: 66.632 observações

Setor: Educação

Tipo de intervenção: Efeitos do estilo de criação

Variáveis de interesse: Taxas de Risco Relativo associadas com desigualdade

Método de avaliação:  Avaliação Experimental (RCT)

Problema de Política

O que impulsiona a maneira como os pais criam os seus filhos? A criação dos filhos pode ser moldada por incentivos e restrições econômicas? Neste artigo os autores constroem uma teoria da escolha racional que é responsável pelas variações na criação dos filhos entre os países industrializados, no qual o modelo considera que os pais são movidos por uma combinação do altruísmo Beckeriano e o motivo paternalista.

O altruísmo Beckeriano refere-se à uma preocupação com o bem-estar da criança e o paternalismo captura até que ponto os pais podem afetar as escolhas de seus filhos moldando suas preferências ou impondo restrições às suas escolhas. Assim, a teoria construída conjectura que as divergências sobre as escolhas possuem uma influência sobre o investimento em capital humano e o sucesso econômico é um fator chave para a escolha de estilo parental.

Segundo Weinberg (2001), há influência dos pais no comportamento dos filhos através dos incentivos financeiros, no qual, os pais de baixa renda por não terem acesso aos incentivos financeiros, recorrem a métodos autoritários. Lizzeri e Siniscalchi (2008) afirmam que os pais que possuem informações superiores sobre as consequências de certas ações podem interagir para proteger as crianças das escolhas mal-informadas.

Contexto de Avaliação

Os estilos parentais variam entre países com diferentes desigualdades de renda, retorno à educação, políticas redistributivas e qualidade das instituições. Assim, o foco do estudo é a análise da correlação entre a desigualdade e a escolha do estilo parental. Em sociedades mais desiguais, o sucesso e o fracasso estão associados a maiores lacunas de renda, assim, espera-se que os pais possam interferir mais na natureza de seus filhos.

O período antiautoritário está vinculado à um baixo retorno à educação, ou seja, nos anos 1960-1970 a desigualdade econômica atingiu um mínimo histórico e havia pouco desemprego, então o retorno de forçar as crianças a estudar era muito baixo, dando maior liberdade e independência aos filhos.

Portanto, a escolha do estilo parental depende da interação entre as preferências dos pais e as características do ambiente socioeconômico. A teoria construída é consistente com as tendências históricas de estilos parentais em países industrializados, dessa forma a paternidade autoritária, medida por práticas como o castigo corporal, tem diminuído ao longo do tempo.

Detalhes da Política

Através da classificação de “estilos parentais”, os autores definem os seguintes estilos (Baumrind, 1967):

  • Permissiva: paternidade que permite que as crianças façam escolhas livres de acordo com suas inclinações naturais;
  • Autoritativa: uma paternidade que tenta moldar as preferências de seus filhos, induzindo à escolhas que consideram necessárias para que possuam sucesso na vida;
  • Autoritários: paternidade que restringe as escolhas dos filhos, impondo diretamente vontade na criança.

No modelo construído a paternidade autoritativa pode imprimir uma forma de culpa que induz a criança a evitar escolhas que os pais consideram inadequadas.

A pesquisa utilizou uma amostra com todos os países da OCDE[1], tal escolha se deu porque todos são semelhantes em termos de nível geral de desenvolvimento e outros aspectos da cultura e instituição, fatores que podem afetar as escolhas dos pais. As medidas de estilos de criação são montadas usando a World Value Survey (WVS) onde são feitas perguntas no estilo: “Aqui está uma lista de qualidades que as crianças podem ser estimuladas a aprenderem em casa. Quais, se houver, você considera especialmente importante? Escolha até cinco.

Detalhes da Metodologia

A partir da pesquisa criou-se proxies das três práticas parentais considerando a qualidade mais associada ao estilo de criação. O valor mais associado ao autoritário é a obediência, portanto todos os pais que marcaram obediência como qualidade desejada foram rotulados como “autoritários”. Para pais “autoritativos” foram selecionados aqueles (i) não autoritários e (ii) que mencionam trabalho árduo entre as qualidades listadas. Por fim, os pais “permissivos” são aqueles que (i) não são nem autoritários e nem autoritativos e (ii) listam independência ou imaginação como qualidade importante.

As três categorias são mutuamente exclusivas, mas não exaustivas, ou seja, alguns pais podem não estar associadas a nenhuma categoria. Considerando a amostra total de 66.632 respondentes, 27% são autoritários, 30% são autoritativos, 34% são permissivos e 9% da amostra foi excluída pois não foram classificados em nenhuma categoria.

Para a realização da análise do estudo, os autores analisaram as taxas de risco relativo (RRRs) associadas com desigualdade através de regressões logísticas multinomiais com efeitos fixos de país. Além disso, os autores controlaram por idade, idade ao quadrado, religiosidade, educação (menos do que ensino médio completo, ensino médio completo e ensino superior) e por PIB per capita do país.

Outra análise feita foi considerando a renda após os impostos, visto que se as expectativas em relação aos resultados econômicos das crianças e a exposição ao risco conduzem a escolha de estilo parental, então a extensão da tributação também deve importar. Assim, considerou-se (i) uma medida de progressividade tributária redistributiva da Andrew Young School of Policy Studies (2010) e (ii) uma medida do gasto social como porcentagem do PIB.

Resultados

Ao analisar os dados em uma primeira etapa, os autores perceberam que o estilo parental permissivo é negativamente correlacionado com a desigualdade, enquanto o autoritativo e o autoritário são positivamente correlacionados. Por exemplo, a desigualdade é muito baixa na Suécia e na Noruega e esses países têm porcentagens mais altas de pais permissivos, enquanto os Estados Unidos têm maior desigualdade e os pais são mais autoritativos e mais autoritários.

O efeito encontrado para religiosidade demonstrou que pais religiosos são menos permissivos e mais autoritários do que pessoas não religiosas. Este achado é consistente com a hipótese de que os pais preparam seus filhos para o mundo em que esperam que vivam, ou seja, religiosos acreditam que o mundo é regulado por uma ordem que nunca muda e, assim, devem transmitir aos seus filhos um conjunto de valores e verdades imutáveis. Ao considerar a extensão da tributação, os achados sugerem que um aumento nas despesas sociais ou na tributação progressiva está associado a uma queda significativa na probabilidade de pais autoritativos e autoritários em relação ao estilo permissivo. Isto é, mais redistribuição torna os mais permissivos.

Os resultados educacionais também demonstraram que as características do sistema educacional afetam o estilo de criação dos pais. Em alguns países, o ensino vertical e a memorização de fatos são enfatizados no ensino médio, além do acesso às melhores universidades serem através de exames de alta exigência. Em tais países, os pais têm um incentivo mais forte para exigir dos filhos um esforço maior durante a adolescência, podendo assumir uma forma de estilo autoritativo ou autoritário. Em países com boas instituições e uma forte proteção dos direitos civis, os pais podem esperar que as inclinações naturais das crianças ajudarão na obtenção do sucesso.

Figura 1: Educação dos Pais e Aprovação de Castigos Corporais

Também foi observado que o aumento na educação dos pais está associado a uma menor propensão de ser autoritário e um aumento na propensão de ser autoritativo. A Figura 1 inclusive demonstra que há um maior envolvimento dos pais na educação e uma menor educação na aprovação de castigos corporais quando os pais são mais educados, enquanto pais com menor escolaridade são mais propensos a recorrer a métodos autoritários.

Lições de Política Pública

A diferença no estilo de criação que os pais impõem aos seus filhos pode ser um efeito do ambiente econômico, assim, a teoria criada consegue sugerir que o estilo autoritário diminui à medida que o desenvolvimento econômico avança. Há evidências de que países com menor desigualdades os pais são mais permissivos e enfatizam valores como independência e imaginação, enquanto os que possuem alta desigualdade os pais apontam em um estilo mais autoritário na criação.

Referência

DOEPKE, Matthias; ZILIBOTTI, Fabrizio. Parenting with style: Altruism and paternalism in intergenerational preference transmission. Econometrica, v. 85, n. 5, p. 1331-1371, 2017.


[1] A amostra inclui: Austrália, Canadá, Finlândia, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália, Japão, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia e Estados Unidos.