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Como as Pequenas e Médias Empresas têm lidado com as interrupções causadas pela pandemia COVID-19?

10 dez 2021

Pesquisadora responsável: Viviane Pires Ribeiro

Título do Paper: The impact of COVID-19 on sustainable business models in SMEs

Autores: Iva Gregurec, Martina Tomičić Furjan e Katarina Tomičić-Pupek

Localização da Intervenção: Global

Tamanho da Amostra: 85 artigos

Grande tema: Empresas

Variável de Interesse principal: Resiliência

Tipo de Intervenção: Análise de como as PMEs que operam no setor de serviços têm lidado com as interrupções causadas pela pandemia

Metodologia: Business Model Canvas

As empresas foram expostas a vários desafios durante a pandemia COVID-19 e sua resposta a esse choque afetou sua resiliência, bem como suas chances de superar a crise. Nesse contexto, Gregurec, Tomičić Furjan e Tomičić-Pupek (2021) investigam como as Pequenas e Médias Empresas que operam no setor de serviços têm lidado com as interrupções causadas pela pandemia. Ao comparar os resultados obtidos no estudo com os de outras pesquisas, os autores observaram que todos levam a conclusões comuns, apesar do fato de estarem lidando com diferentes tecnologias, setores e motivadores. Ou seja, a situação pandêmica tem levado muitas empresas a repensar seus modelos de negócios, buscar aprender com as outras empresas, além de focar nos fatores ambientais, setoriais, econômicos, tecnológicos e sociais que influenciam a forma como os negócios são realizados.

Contexto da do Avaliação

A pandemia COVID-19 que começou em 2020 impactou empresas de todos os tamanhos e em todos os setores. Embora alguns setores tenham mostrado um certo nível de resiliência ou até mesmo tenham encontrado um novo nicho operacional, a maioria dos pequenos e médios empresários do setor de serviços encontraram-se em “novos ambientes operacionais normais”.

Para desacelerar a pandemia, vários países suspenderam as atividades comerciais e adotaram o distanciamento social para reduzir a transmissão do vírus. Isso levou a lockdowns, queda do consumo e fechamento de empresas. Muitos especialistas econômicos veem esta pandemia como um evento metafórico de “cisne negro”, isto é, um evento imprevisível, de grande magnitude e de graves consequências, que altera drasticamente o ambiente político e econômico, podendo causar falências de empresas. Os profissionais da tecnologia, por outro lado, referem-se a pandemia como uma ruptura global, que pode ser vista como uma oportunidade ou como um desafio para transformar modelos de negócios ou implementar novas tecnologias como suporte para processos de negócios.

Detalhes da Intervenção

Novas abordagens estratégicas para Pequenas e Médias Empresas (PMEs) devem ajudar a aumentar a probabilidade de superar o impacto da pandemia, uma vez que essas empresas foram atingidas financeiramente devido aos seus recursos limitados e pouca experiência. Com base no entendimento comum dos fatores que podem impactar a maneira como as empresas estão lidando com sua sobrevivência na pandemia, uma abordagem com três dimensões pode ser interessante. Em primeiro lugar, a indústria operacional e os setores dentro da indústria influenciam a exposição das PMEs, uma vez que elas tendem a ser mais concentradas em setores que foram diretamente afetados pelas medidas de resposta à COVID-19. Em segundo lugar, vários impulsionadores de transformação definem o curso de resposta e formam a direção da transformação. Terceiro, devido à pandemia as PMEs estão introduzindo tecnologias digitais que não eram consideradas de alta prioridade anteriormente, como forma de evitar o fechamento total das atividades econômicas.

Com base nessas três dimensões de enfrentamento da interrupção causada pela pandemia COVID-19, Gregurec, Tomičić Furjan e Tomičić-Pupek (2021) buscam fornecer insights sobre as seguintes questões de pesquisa: o que impulsiona a transformação das PMEs no setor de serviços e quais tecnologias estão sendo selecionadas para responder a essa crise? como o setor de serviços operacional, os drivers da transformação e a tecnologia selecionada influenciam a redefinição de modelos de negócios sustentáveis nas PMEs?

Portanto, a pesquisa tem como objetivo obter insights sobre quais drivers da transformação as empresas se concentraram e quais tecnologias elas selecionaram como meio de responder à interrupção. Essas percepções sobre as PMEs são então exploradas de acordo com sua influência na redefinição de modelos de negócios sustentáveis. Para atingir o objetivo de encontrar implicações acadêmicas e práticas para tornar os modelos de negócios das PMEs mais sustentáveis, uma revisão abrangente da literatura foi realizada para preencher a lacuna na compreensão de como a pandemia afetou os modelos de negócios existentes das PMEs.

Detalhes da Metodologia

A revisão da literatura foi conduzida nas seguintes etapas: realização de uma pesquisa de bases de dados e plataformas de pesquisa relevantes; construção de uma estrutura de pesquisa para a análise qualitativa; aplicação da estrutura de análise qualitativa; e exploração do impacto no modelo de negócios com base no Business Model Canvas.

O processo de coleta da literatura foi iniciado com a identificação de bancos de dados relevantes para a pesquisa, no qual os seguintes bancos de dados e plataformas foram selecionados: Scopus, Web of Science (WoS), Emerald, Wiley, Proquest, EbscoHost, ScienceDirect e Taylor and Francis Online. A estratégia de busca foi baseada na combinação de palavras-chave: ‘Small and medium-sized enterprises’, ‘empreendedorismo’, ‘setor de serviços’, ‘pandemia’ e ‘COVID-19′. A busca foi realizada em dezembro de 2020 e resultou em um total de 89 acessos. Depois de "mesclar" todos os 89 artigos, os documentos duplicados foram excluídos, totalizando 85 artigos diferentes para análise posterior.

Paralelamente à pesquisa, as dimensões do quadro de pesquisa para o estudo foram construídas buscando investigar as três dimensões de como as PMEs estão enfrentando os desafios colocados pela pandemia. As três dimensões incluíram: (i) dimensão do escopo relacionada ao setor de serviços operacionais; (ii) dimensão do driver relacionada à força motriz da mudança; e (iii) dimensão da tecnologia relacionada à tecnologia selecionada para responder às interrupções no mercado. Metadados relevantes e dados de análise de conteúdo nas três dimensões dos 85 artigos selecionados foram extraídos e codificados. Com base nas três dimensões, a literatura científica reunida foi investigada para a identificação de subconceitos entre as dimensões. Cada vez que um novo subconceito era identificado, ele era adicionado à estrutura e registrado. Por fim, o conteúdo dos artigos foi extraído e analisado.

Resultados

O desenvolvimento da tecnologia está crescendo exponencialmente e define o cenário para o ambiente digital em que as empresas operam. O estudo realizado por Gregurec, Tomičić Furjan e Tomičić-Pupek (2021) mostra que as PMEs mudaram seu foco da transformação impulsionada pela tecnologia para iniciativas de transformação impulsionadas mais socialmente. As redes e plataformas sociais, bem como as tecnologias móveis, foram as tecnologias mais frequentemente selecionadas como ferramenta de transformação dos canais de comunicação e/ou prestação de serviços. Uma possível explicação para isso pode ser encontrada no uso comum e na experiência de provedores de serviços e consumidores com essas tecnologias amplamente disponíveis. No entanto, outras tecnologias podem resultar em mais impactos, entretanto, elas não são tão comumente usadas ​​pelo público em geral devido à complexidade da tecnologia, falta de experiência do público quanto ao seu uso, longos períodos de implementação, necessidade de equipamentos adicionais, etc. O uso de soluções tecnológicas com curtos períodos de implementação e que são orientadas para possibilitar as propostas de valor desejadas contribuiria para apoiar as PMEs em seus esforços para responder rapidamente aos lockdowns.

Abrangência e escala gerais não foram o foco da pesquisa, mas o estudo teve sucesso em obter percepções oportunas e reais sobre abordagens alternativas usadas pelas PMEs para lidar com a pandemia. No nível estratégico, as abordagens estratégicas que se referem a um ambiente altamente imprevisível e que são viáveis ​​na crise pandêmica enfrentada pelas empresas incluem: os seguidores (abordagem adaptativa), os desafiadores (abordagem de modelagem) e a redefinição total (a abordagem de renovação). Cada uma das opções para as PMEs traz benefícios e riscos potenciais:

  1. A PME seguidora decide seguir a forma como os concorrentes do mesmo setor de serviços operam, o que coloca um determinado driver em foco. Implementa tecnologias semelhantes, como as outras. Ao implementar as mesmas soluções de tecnologia, ela pode se beneficiar da escolha de uma solução pronta para uso. Isso constituiria uma resposta rápida às mudanças no mercado e no comportamento do cliente. Por outro lado, tal “mesclagem” com os concorrentes significa que a PME não consegue se diferenciar. Esse é um risco e depende da disponibilidade da empresa em aplicar a mesma tecnologia digital.
  2. A PME desafiadora pode se diferenciar e oferecer uma proposta de valor diferente das demais. Essa proposta de valor personalizado pode surgir de um foco de driver diferente e/ou da aplicação de uma tecnologia que os outros não consideraram. As soluções de tecnologia orientadas para a personalização representam um risco a curto prazo, mas também oferecem o desenvolvimento de habilidades e competências. Assim, ela pode se beneficiar da resiliência e sustentabilidade de longo prazo.
  3. As PMEs “reinvent myself” (aquelas que estão aplicando a abordagem da estratégia de renovação) poderiam repensar seu setor de serviços operacionais se o driver e os nichos de tecnologia, bem como as habilidades e competências específicas existentes, pudessem ser identificados. Esta abordagem tem potencial para trazer grandes benefícios, mas também é a mais arriscada.

Em ambientes normais, as PMEs lutam para decidir quando e como equilibrar entre a exploração de produtos/serviços existentes e a exploração de novos produtos/serviços. Ambientes instáveis e imprevisíveis forçam as PMEs a repensar sua estratégia de negócios e mudar seu modelo operacional. Na pandemia, a ambidestria estratégica se espalhou em processos operacionais em termos de mudanças nos cenários de compra e logística de insumos, novas formas de fornecer serviços e o desenvolvimento de canais de delivery alternativos. As PMEs contam com paradigmas existentes, mas também estão explorando novas possibilidades. A flexibilidade das PMEs e sua agilidade de resposta podem ser vistas como uma vantagem em relação às grandes empresas no que diz respeito à ambidestria estratégica. No entanto, muitas vezes carecem de capacitação e competência para tirar vantagem da situação. A construção de capacidades e competências para oportunidades de crescimento futuro deve ser uma prioridade quando as atividades de negócios são reduzidas em decorrência de medidas de saúde.

Lições de Política Pública

Uma limitação da pesquisa, de acordo com Gregurec, Tomičić Furjan e Tomičić-Pupek (2021), é o fato de os resultados serem baseados apenas em fontes secundárias, ou seja, as publicações que relatam o tema não podem ser vistas como abrangentes. Em estudos futuros esse tipo de pesquisa qualitativa poderia ser realizada estudando diretamente as PMEs. Neste caso, os resultados também poderiam ser usados ​​para melhorar o direcionamento de iniciativas de auxílio financeiro. Medidas atenuantes na forma de auxílio financeiro podem contribuir para manter o emprego e a continuação das atividades comerciais apenas temporariamente. Medidas não financeiras na forma de melhoria de competências digitais, desenvolvimento de novas alianças estratégicas mais sustentáveis, criação de novas propostas de valor orientadas para a qualidade de vida e um ambiente de trabalho seguro e sustentável devem ser o foco das políticas de longo prazo.

A aquisição de novas competências, o aprimoramento do conhecimento e a ganho de experiência, bem como a construção de alianças estratégicas com as partes interessadas podem ser realizadas durante lockdowns, ou seja, quando as empresas não podem operar. A academia e os profissionais de consultoria também devem contribuir de acordo com o seu papel na comunidade, ofertando mais programas de aprendizagem por meio de plataformas de cursos online, realizando projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em cooperação com diferentes stakeholders.

A influência do COVID-19 motiva as PMEs a repensar suas competências essenciais, buscar novas oportunidades e redefinir modelos de negócios sustentáveis de maneira mais intensa e oportuna. A ambidestria estratégica em ciclos mais curtos, o equilíbrio entre as medidas e a concentração na construção da inovação não se limitam apenas às PMEs. Desenvolver novas competências, melhorar a gestão da experiência e aprimorar a experiência dos profissionais em relação à aplicação de novas tecnologias em modelos de negócios durante o período de pandemia é uma necessidade essencial do desenvolvimento regional a longo prazo. Concentrando-se nisso, as PMEs não sobreviverão somente a essa crise, elas serão capazes de adotar novas tecnologias e se tornarão mais competitivas também em outras condições desafiadoras.

Referências

Gregurec, I., Tomičić Furjan, M., & Tomičić-Pupek, K. (2021). The impact of COVID-19 on sustainable business models in SMEs. Sustainability13(3), 1098.