O potencial colapso da gigante de construção chinesa Evergrande, uma das companhias mais endividadas do mundo, trouxe ao mercado financeiro mundial o temor de uma crise financeira como a ocorrida em 2008, que teve como pivô o Lehman Brothers.
A Evergrande entrou em situação desafiadora no final de 2020, após reguladores chineses determinarem que desenvolvedores imobiliários teriam que reduzir o endividamento antes de contrair novas dívidas.
A empresa, sediada em Shenzhen, na China, tinha o equivalente a US$ 88 bilhões em empréstimos em aberto no trimestre encerrado em junho, 42% dos quais venceriam em menos de um ano. A Evergrande vendeu US$ 2,2 bilhões em ativos no primeiro semestre, de acordo com a Dow Jones Newswires
Assim, segundo analistas de mercado, uma eventual quebra da construtora pode gerar turbulência no mercado internacional. A crise afetaria principalmente os emergentes Brasil, África do Sul e Turquia, por disputarem o topo do ranking de maior vulnerabilidade, considerando problemas fiscais, financeiros e políticos, tendo em vista que, como em 2008, pode ocorrer um “congelamento” do mercado financeiro internacional por aversão ao risco - ou seja, falta de liquidez.
Mas, por que um problema em uma empresa de construção civil chinesa poderia derrubar toda a economia mundial?
Imagine que a quebra afete todo o setor de construção chinês – a Evergrande é a maior companhia imobiliária chinesa -, a ponto de provocar um esfriamento da economia, levando Pequim a reduzir importações...
… os exportadores de commodities para o país asiático, como o Brasil, estariam em maus lençóis.
Na situação em que o gigante asiático não importa mais commodities como importava, países como o Brasil, que possui um débito fiscal gigantesco e que prepara outra “pedalada fiscal”, além de todo o problema político que se apresenta com as turbulências entre governo federal, STF e Congresso Nacional... o Doom está próximo!
Aliado ao possível calote da Evergrande temos os seguintes problemas:
- 1 - minério de ferro com desvalorização de mais de 49% no período compreendido entre junho até hoje;
- 2 - crise da vaca louca, que fez o futuro de boi despencar mais de 10%;
- 3 - inflação nos Estados Unidos superior ao PIB e ultrapassando os 5%;
- 4 - aproximação do FED em iniciar o tappering, que diminuirá o programa de compra de ativos de empresas e diminuirá a liquidez do sistema financeiro.
As notícias ruins param por aqui?
O mercado gostaria que sim, entretanto esta não é a realidade.
Fora os problemas da gigante chinesa e do possível arrefecimento do mercado financeiro asiático, temos as jabuticabas brasileiras: calote dos Precatórios, novo Bolsa Família com impacto de R$ 9,4 bilhões, IOF e reforma tributária.
Pois bem, se avizinhando o número de palavras que possuo para o presente artigo temos que, por ora, os bonds da Evergrande despencaram e suas ações acumulam queda de mais de 80% este ano, mas o contágio para outros ativos - tanto dentro quanto fora da China – ainda não possui uma correlação exata.
Informações de jornais internacionais asseguram que Pequim sinalizou que, até então, decidiu não socorrer os problemas da gigante Evergrande - e isso se dá pelo fato de que as maiores preocupações residem nas empresas do setor de tecnologia e os dados que armazenam. Sendo que, até mesmo o próprio governo informou o desejo de que o setor de construção reduza fortemente seu endividamento, quando, no começo deste ano, estabeleceu métricas financeiras para desalavancar o setor.
Assim, investidores internacionais, de olho no tappering – retirada do governo norte-americano dos estímulos financeiros a economia com a redução da compra de ativos – e no possível arrefecimento da economia chinesa com a perspectiva de falência da Evergrande, provocam um movimento de aversão a risco e sell-off de posições de risco, em especial de países que “não fazem o dever de casa”.