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Como melhorar os resultados educacionais nos países em desenvolvimento?

13 ago 2021

Pesquisadora responsável: Viviane Pires Ribeiro

Título do artigo: IMPROVING EDUCATIONAL OUTCOMES IN DEVELOPING COUNTRIES: LESSONS FROM RIGOROUS EVALUATIONS

Autores do artigo: Alejandro J. Ganimian e Richard J. Murnane

Localização da intervenção: 58 países de baixa e média renda

Tamanho da amostra: 223 avaliações

Setor: Educação

Tipo de Intervenção: Avaliação dos resultados educacionais

Variável de interesse principal: Resultados educacionais

Método de avaliação: Outros- Análise das avaliações de intervenções educacionais

Contexto da Avaliação

Os países em desenvolvimento vêm se interessando cada vez mais em adotar políticas educacionais que sejam apoiadas por evidências rigorosas de eficácia. Esse interesse em políticas “baseadas em evidências” resultou em um número crescente de avaliações de impacto desde a virada do século. Dessa forma, vários pesquisadores tentaram resumir as evidências dessas avaliações.

Tais análises visam dar respaldo às evidências para os formuladores de políticas, que não têm tempo (e às vezes, treinamento especializado) para examinar centenas de artigos acadêmicos. As avaliações buscam identificar intervenções promissoras, bem como apontar enigmas a serem examinados em pesquisas futuras. No entanto, muitas das análises chegam a conclusões aparentemente conflitantes sobre quais intervenções educacionais melhorariam os resultados educacionais. As discordâncias podem decorrer por várias razões (por exemplo, alguns autores focam em estudos em uma determinada região geográfica, outros em estudos com dados de custo-efetividade e outros em ensaios randomizados). Porém, mesmo as revisões com critérios de inclusão semelhantes consideram diferentes conjuntos de estudos. Além disso, as diferentes maneiras como as revisões categorizam as intervenções resultam em algumas conclusões conflitantes, mesmo quando consideram os mesmos estudos.

Detalhes da Intervenção

Murnane e Ganimian (2014) analisam e interpretam as evidências de 223 avaliações de impacto rigorosas de iniciativas educacionais conduzidas em 58 países de baixa e média renda. Foram considerados todos os estudos recentes na época que chegaram a conclusões aparentemente conflitantes sobre quais intervenções melhorariam os resultados educacionais. Para tanto, as intervenções foram agrupadas com base em sua teoria de ação.

Os autores revisaram as avaliações de intervenções educacionais em escolas pré-primárias, primárias e secundárias que ocorreram em países de baixa ou média renda de 2000 a 2015. Os estudos incluíram pelo menos um dos seguintes resultados relacionados à educação: matrícula, frequência, repetição, evasão, retenção ou medidas de desempenho do aluno ou habilidades cognitivas.

Foram incluídos estudos de intervenções educacionais, como oferta de aprendizagem assistida por computador ou alteração de incentivos para professores, bem como estudos de intervenções em saúde, como a oferta de medicamentos e suplementos de ferro.

Detalhes da Metodologia

Para realizar a análise, os autores incluíram somente estudos que tiram vantagem da variação exógena no recebimento da intervenção, seja pela atribuição aleatória de indivíduos a um tratamento ou pela exploração da variação quase aleatória na atribuição de tratamento de experimentos naturais. Os estudos incluídos com base em experimentos naturais usam diferenças em diferenças, descontinuidades de regressão e/ou variáveis instrumentais para estimar os impactos causais das intervenções. Não foram considerados estudos que tentam estimar resultados contrafactuais, seja por meio do emprego de métodos de correspondência ou de efeitos fixos para indivíduos em pré e pós comparação.

Resultados

Murnane e Ganimian (2014) relatam o efeito das intervenções na participação do aluno, desempenho do aluno ou frequência do professor para cada 100 dólares americanos. Assim, os autores ressaltam quatro lições dos estudos que revisaram:

1. A redução dos custos de ir à escola e a expansão das opções de ensino aumentam a frequência e o aproveitamento, mas não aumentam de forma consistente o aproveitamento do aluno;

2. Fornecer informações sobre a qualidade da escola, práticas parentais adequadas ao desenvolvimento e os retornos econômicos da escolaridade afeta as ações dos pais e o desempenho de crianças e adolescentes;

3. Mais ou melhores recursos melhoram o desempenho do aluno apenas se resultarem em mudanças nas experiências diárias das crianças na escola;

4. Incentivos bem planejados aumentam o esforço do professor e o desempenho dos alunos de níveis muito baixos, mas os professores com baixa qualificação precisam de orientação específica para atingir níveis minimamente aceitáveis de instrução.

Lições de Política Pública

O estudo realizado por Murnane e Ganimian (2014) rende algumas lições úteis para melhorar a oferta educacional. Ou seja, aumentar a quantidade ou a qualidade dos recursos, em casa ou na escola, teve no melhor dos impactos modestos efeitos sobre a realização estudantil. O mesmo é verdadeiro para iniciativas que tenham aumentado a carga escolar por dia.

Há evidências de que abordando as necessidades estudantis de aprendizagem individualmente, ajudando os professores a personalizar o ensino, fornecendo auxílio adicional aos alunos, ou deixar os alunos aprenderem no seu próprio ritmo, aumenta a realização deles. Talvez igualmente importante, essas estratégias são frequentemente mais eficazes no aumento das habilidades dos alunos de baixo desempenho.

Aumentar o esforço do professor e/ou diretor, envolvendo os pais e as comunidades na gestão escolar, não tem sido eficaz na melhoria dos resultados dos alunos — especialmente em ambientes onde a capacidade pré-existente é baixa. Oferecer incentivos aos diretores e/ou professores melhorou o desempenho escolar. No entanto, tem se mostrado difícil projetar sistemas de incentivo que não produzam respostas disfuncionais. A contratação de professores com contratos renováveis por prazo determinado aumentou o desempenho dos alunos no curto prazo, mas levar essa política em escala e mantê-la ao longo do tempo apresenta muitos desafios.

O desenvolvimento profissional com o objetivo de aumentar o conhecimento dos professores sobre o conteúdo e a pedagogia não aumentou o desempenho dos alunos. Aulas pré-preparadas para professores melhoraram o desempenho dos alunos em ambientes de baixa capacidade do professor.

As consequências de qualquer estratégia de melhoria escolar provavelmente dependerão das circunstâncias do ambiente específico. Em ambientes onde muitas crianças estão fora da escola, pode fazer sentido focar nas intervenções do lado da demanda. No entanto, em países onde a maioria das crianças vai à escola e o aprendizado é baixo, melhorar a instrução é crucial. Da mesma forma, em ambientes onde a capacidade do professor é muito baixa, tornar seu trabalho mais fácil – por exemplo, rastreando os alunos por habilidade ou preparando aulas para os professores – pode produzir melhorias incrementais. Em países onde os professores têm capacidade moderada, mas baixo esforço, alinhar os incentivos de alunos, pais e professores pode fazer mais sentido, desde que haja mecanismos para desencorajar, identificar e corrigir respostas disfuncionais.

Muitas das informações sobre as intervenções dizem respeito a resultados de curto prazo para os alunos. Examinar as consequências de longo prazo de intervenções promissoras nos países em desenvolvimento é uma meta importante para pesquisas futuras.

Referências

MURNANE, Richard J.; GANIMIAN, Alejandro. Improving educational outcomes in developing countries: Lessons from rigorous impact evaluations. NBER Working Paper, n. w20284, 2014.