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AMBIENTES DE NEGOCIAÇÃO, COM OPINIÃO PÚBLICA INCERTA, PODEM AFETAR O BEM-ESTAR?

22 set 2023

Pesquisadora responsável: Eduarda Miller de Figueiredo

Título original: Gambling over Public Opinion

Autores: Deepal Basak e Joyee Deb

Localização da Intervenção: -

Tamanho da Amostra: -

Setor: Setor Público

Variável de Interesse Principal: -

Tipo de Intervenção: Negociação Política

Metodologia: Teoria dos Jogos

Resumo

            A opinião pública é usada como uma ferramenta para um compromisso confiável. Porém, em muitas situações políticas, ela só é descoberta após o início da negociação. Neste artigo os autores examinaram os ambientes de negociação com opinião pública incerta e compromisso dispendioso, e questionam quando surgem os impasses de barganha e as implicações de bem-estar desses impasses. Demonstram dois exercícios, em que um não há um equilíbrio e no outro há um equilíbrio único e simétrico. Os autores concluem que a política final pode responder “demais” às novas informações e afetar adversamente o bem-estar.

  1. Problema de Política

Em muitas situações de negociação, a opinião pública é usada como uma ferramenta para um compromisso confiável. Porém, em muitas situações, a opinião pública não é realmente conhecida no momento em que a negociação começa, apenas é descoberta posteriormente. Por exemplo, nos Estados Unidos em 2012, apenas algumas semanas antes do abismo fiscal iminente, muitos políticos republicanos mantiveram-se firmes em seu voto a favor do corte de gastos. Era uma postura crível visto que era parte da promessa aos seus próprios eleitores, então, um possível recuo dessa postura significaria uma perda de credibilidade e um custo de reputação que poderia impactar negativamente suas probabilidades de reeleição.

O desacordo na barganha como a tentativa dos jogadores de construir a reputação de serem durões, em um cenário com informações assimétricas de ambos os lados, foi explicado por Abreu e Gul (2000), através da chamada barganha reputacional. Fanning (2018) apresenta incerteza nos custos que é resolvida em uma data futura, mostrando que se a probabilidade do tipo de comprometimento convergir para zero, então pode haver desacordo.

O objetivo do artigo aqui analisado era de examinar os ambientes de negociação com opinião pública incerta e compromisso dispendioso, e questionar quando surgem os impasses de barganha e as implicações de bem-estar desses impasses.

  1. Contexto de Implementação e de Avaliação

             Os autores estudaram um processo de negociação bilateral em dois estágios em uma democracia representativa bipartidária (RD), em que o ambiente possui três características principais:

  1. É interpretado como um modelo de RD bipartidária e, portanto, a opinião pública é unidimensional. Ou seja, maior apoio a um partido implica em menor apoio ao outro partido.
  2. Se alguma das partes abrir mão de sua posição inicial de barganha, ela sofrerá um custo que dependerá da fração do público que a favoreceu. Portanto, um partido com maior apoio é mais difícil de fazer concessões.
  3. Se uma parte recuar de sua posição inicial, o custo que ela enfrentará dependerá da extensão da concessão. Refletindo a ideia de que o público não pune uniformemente todas as concessões, porque recuar em uma grande escala de uma demanda inicial é mais evidente.
  • Detalhes da Política/Programa

            Na democracia representativa (RD), há dois partidos i (esquerda) e j (direita) que estão negociando sobre como alocar 1 bilhão de dólares entre gastos militares e educação. O partido i quer gastar todo o valor em educação, enquanto j quer gastar todo o valor com as forças armadas. Quando o estado do mundo, aqui definido por , é positivo, então tem uma baixa ameaça de guerra.

            No início do jogo, ambas as partes publicam de forma simultânea as suas demandas. Quando as partes estão em um impasse, o jogo segue para a próxima fase e o estado do mundo () é observado. São encomendados estudos por agências independentes e, à medida que os relatórios dos estudos são publicados, todos ficam cientes da ameaça de guerra. Consequentemente, forma-se a opinião pública sobre qual posição partidária é melhor, ou seja, cada eleitor decide qual partido apoiar.

            Após observar a opinião pública, as partes voltam a negociar para ver quem cede. Esta fase ocorre como um jogo de negociação de ofertas alternadas à la Rubinstein (1982), com ofertas frequentes:

  1. Uma das partes é escolhida aleatoriamente para fazer a primeira concessão.
  2. Se a outra parte aceitar essa demanda, um acordo é feito e o jogo termina. Caso contrário, ele continua para a próxima rodada.
  3. Na próxima rodada, a outra parte faz a demanda e o mesmo processo continua até que um acordo seja alcançado.

            Importante salientar que as partes sofrem custos de reputação se fizerem concessões, que depende do tamanho da concessão e da opinião pública. Em que uma concessão maior é mais evidente para o público e tem maior probabilidade de afetar a credibilidade de uma das partes. Portanto, maior apoio público ao partido i, torna o partido mais disposto a esperar.

            No equilíbrio de barganha padrão de ofertas alternadas, a parte que está mais disposta a esperar tem uma vantagem. Assim, em equilíbrio o partido i precisa receber uma participação maior.

  1. Método de Avaliação

            A partir de toda a demonstração de como uma negociação aconteceria, os autores apresentam um exemplo simples para ilustrar a teoria descrita anteriormente. Eles demonstram que não há equilíbrio de assentamento, assim como caracterizam explicitamente o equilíbrio de jogo de estratégia pura simétrico único.

  1. Principais Resultados

Dado que os pontos ideais e o estado do mundo sejam distribuídos uniformemente, a distribuição do apoio público não é necessariamente uniforme, vide o que foi discutido anteriormente.

Dada as demandas iniciais e a distribuição do apoio público aos partidos, quando uma parte faz uma demanda maior que a outra, o partido i obtém zero apoio público com probabilidade positiva e nunca pode obter o apoio político total. Logo, não há equilíbrio.

Já quando as partes exigem mais do que , sabe-se que uma demanda inicial maior implica em uma maior magnitude de concessão. Como o custo do compromisso aumenta na extensão da concessão, ocorrem dois efeitos:

  1. Uma demanda maior dá ao jogador mais alavancagem, aumentando assim o que ele ganha no segundo estágio da barganha. Aumenta também o custo percebido do compromisso.
  2. Uma demanda inicial maior significa que o partido acabará obtendo menos apoio público, reduzindo sua alavancagem.

            A partir disso, haverá um equilíbrio de jogo de estratégia pura simétrico único.

            Por fim, os autores também salientam que quando a negociação vai para o segundo estágio, uma ou ambas as partes têm que se comprometer depois que a opinião pública é revelada, e devem arcar com os custos associados do compromisso. No entanto, segundo os autores, este custo de compromisso incorrido pelas partes pode não ser uma razão importante para se preocupar com o desacordo. Na verdade, para eles, um subproduto do impasse entre as duas partes interessadas é que o acordo final depende de novas informações que surgem sobre a conveniência das alternativas concorrentes. Em que a escolha final da política pode resultar em bem-estar público maior do que o acordo no primeiro estágio, porque responde a essa nova informação.

  1. Lições de Política Pública

            Os autores demonstram no artigo que, na negociação política, a opinião pública é usada como um instrumento de compromisso credível. No qual, quando as partes não sabem onde o público se posiciona quando começam a barganhar, então sob um amplo conjunto de condições, as partes preferem apostar na opinião pública. Ou seja, fazem demandas incompatíveis e esperam para ver de que maneira a opinião pública se move antes de fazer um compromisso.

            Salientam que é passível se conjecturar que isso melhora o bem-estar público em comparação com um caso em que essas informações não são incorporadas. No entanto, demonstram que isso não é verdade. E política final pode responder “demais” às novas informações e afetar adversamente o bem-estar.

Referências

Abreu, Dilip and Faruk Gul. 2000. “Bargaining and Reputation”. Econometrica 68 (1): 85-117.

Fanning, Jack. 2018. “No Compromise: Uncertain Costs in Reputational Bargaining”. Journal of Economic Theory 175 (May): 518-55.

Rubinstein, Ariel. 1982. “Perfect Equilibrium in a Bargaining Model”. Econometrica 50 (1): 97-109.